Quem vê o paratleta Sivaldo de Souza fazendo bonito nas pistas com conquistas de medalhas e títulos, talvez nem imagina que o corredor de apenas 30 anos carrega uma história digna de roteiro de filme, com capítulos de superação através do esporte, amor e drama familiar. Natural da cidade de Pedra do Buíque-PE, quando ainda era criança ele fez o trajeto de muitos nordestinos e partiu para São Paulo junto com sua família. Em terras paulistas, o garoto descobriu que possuía retinose pigmentar, uma doença degenerativa da retina que causa perda de visão progressiva.
“Cheguei em São Paulo mais ou menos com 11 anos de idade. Com 19 anos tinha vontade de conhecer o futebol de 5, treinar com atletas que tinham problemas visuais também. Então consegui uma equipe, comecei a treinar, conhecer alguns outros atletas que também praticavam o atletismo. Alguns companheiros me chamaram para conhecer a modalidade, fiz testes, o técnico gostou e fez o convite para eu treinar”, relembra Sivaldo.
Ao descobrir o atletismo, o garoto começou a treinar e participar de provas de rua de 5km, 10km, 15km. Em seguida foi escolhido para fazer os 400m, prova que se identificou e segue treinando e competindo. A mudança deu tão certo, que na modalidade ele já conquistou o bicampeonato brasileiro.
Mas, se dentro das pistas o jovem havia se encontrado, fora delas sentia que um vazio ainda precisava ser preenchido. Como seus pais tinham se separado quando ele era muito pequeno, o paratleta não via o pai há 17 anos e sentiu o desejo de reencontrá-lo. Seu pai morava em Juazeiro do Norte-CE.
“No ano 2016 tive a ideia de que queria rever meu pai, ficar mais próximo. Foi uma alegria muito grande reencontrá-lo. Depois, todos os anos eu pegava férias do clube e ia para Juazeiro. Então falei: ‘Cerca de 17 anos sem ver meu pai, vivi a maior parte da minha vida sem ele, quero dar maior atenção’. Ele vivia doente também e fui querendo me aproximar mais”, conta.
Com isso, o paratleta estava decidido a voltar para o Nordeste. Só que ainda existia um obstáculo: como continuar no atletismo? Sivaldo queria poder conviver mais com o pai, mas não queria abandonar seu outro grande amor. Foi então que surgiu a Associação Petrolinense de Atletismo (APA) e a cidade de Petrolina-PE.
“Pesquisei por uma equipe para eu poder continuar praticando o atletismo e a APA Petrolina era um clube que estava bem colocada, sempre com boas posições nos Campeonatos Brasileiros, e vi que de Petrolina para Juazeiro são 350km. Tive a ideia de que eu podia mudar para Petrolina, continuar treinando, e aos finais de semana ou feriados dar um pulinho para ver meu pai. Então, primeiro fui para o Maranhão, fiquei cinco meses lá até mudar para Petrolina. Antes de vir comecei a treinar nas estradas do Maranhão, nas rodovias, e o professor Marciano já me passava treinos e eu fazia”, relata.
Pouco tempo depois, durante uma visita aos seus familiares que ficaram em São Paulo, Sivaldo recebeu a triste notícia do falecimento do pai. Abalado, o corredor chegou a pensar que todo seu plano não fazia mais sentido e cogitou desistir. Mas, com o incentivo de familiares e companheiros, ele recuperou o ânimo e decidiu que Petrolina é seu novo lar e a APA sua mais nova família.
“Fiquei muito triste, pois vim para Petrolina porque queria treinar, mudei para equipe para poder rever meu pai. Então perguntei: ‘E agora o que vou fazer?’. Então resolvi continuar, não desistir de morar em Petrolina. Coloquei nas mãos de Deus e graças a ele está dando muito certo. Fui bem acolhido pelo pessoal, é uma cidade maravilhosa. Por mais que eu deixei a minha família em São Paulo, mas estou me dando bem aqui. Estou começando um novo ciclo. Estou gostando muito daqui e por enquanto não pretendo sair”, afirma.
Residindo em Petrolina há cinco meses, Sivaldo segue treinando forte e espera escrever capítulos felizes e brilhantes assim como as medalhas que já começou a conquistar com a camisa da APA e representando o estado de Pernambuco.
“Sempre quis representar meu estado de origem nas competições. Hoje estou realizando esse desejo”, comemora.